Universo masculino

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E os homens? Quem disse que não tem lugar para explorar a “forte” fragilidade masculina também? Eles estão nos romances, mas também num livro de conto dedicado a eles: Desnudos. Ainda engavetado, mas logo vem para a revisão.

Embora o livro retrate o universo feminino, ele não deixa de trazer o masculino para esse mundo. Vilão em muitos contos, no papel do marido ausente ou opressor, o homem é retratado em diversos momentos como o opositor, o que julga, fere com palavras ou com o silêncio. Alguns textos desnudam nesse contexto a raiz de muitos dissabores na vida da mulher. Entretanto não é somente desse modo que eles aparecem no livro. É pertinente destacar como é retratada a sensibilidade masculina no esforço para compreender esse amplo e abstrato universo femíneo, cheio de labirintos e nuances multifacetadas que fascinam ou enlouquecem os homens.

Para compreender melhor a participação deles, vou citar quatro contos em que o personagem masculino é destacado:

Em O PORTA-RETRATOS é um narrador masculino que descreve a mulher que se sobressai na história mesmo sem estar presente. Ele demonstra sensibilidade na percepção das fraquezas e virtudes de Vera, bem como generosa delicadeza no ato de acolher suas histórias uma, duas, quantas vezes a vizinha tivesse necessidade de compartilhá-las. O leitor consegue viajar por seus encontros e sentir também o cheiro de bolo e a acolhida de Vera nas afetuosas tardes que passavam juntos.

Em A GRANDE NOITE NO CASTELO, o narrador é quem revela a necessidade de a rainha Judite sentir o amor verdadeiro, embora ela estivesse consciente de que não o levaria para a vida. Contudo nos aprofundamos na essência de suas inquietudes graças ao envolvimento do narrador com aquela a quem lhe foi dada a função de descrever.

Interessante, porém, é transformação e crescimento do personagem masculino dentro do conto A VARANDA. Aqui fica definitivamente comprovado que o homem não é apenas retratado como vilão, embora a princípio se possa ter uma visão negativa deste personagem. Para o bom observador, contudo, aí está a dica de que o homem precisa de um olhar menos raso para as mulheres a fim de compreendê-las, ou melhor, enxergá-las de verdade.

Por fim, a dubiedade da figura masculina também aparece no conto DEVANEIOS, em dois personagens, um vilão e um “salvador”. Ou essa última figura masculina é a própria força interior da personagem? Seria seu lado racional e persistente quando precisa optar pela “sobrevivência” no último segundo? Uma vivência que se sobressaia à vida sem sentido que era sua existência até então.

E, embora a valorização da figura masculina, neste livro universalmente feminino, tenha sido destacada, não se empolgue muito, pois vai ter que encarar todos os vilões presentes também. Enfim, é preciso que o leitor tire suas próprias conclusões, mergulhe neste universo, vestindo-se na pele do opressor e também da oprimida, enxergando-se como o mocinho ou como o vilão, e decida o papel que lhe convém seguir. Mas é pertinente que se leia nas entrelinhas como compreender, fazer parte e coadjuvar com a figura feminina em sua vida.

Texto de Luciane Monteiro Taça Escarlate (Editora Inverso)

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