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O fio tênue
Éramos inseparáveis, embora discutíssemos amiúde. Tínhamos muitas inconstâncias, por isso alguns não compreendiam nossa oscilação de humor e conjecturas. Era essa multiplicidade, porém, que nos livrava do enfado de sentir sempre as mesmas emoções.
Ela era minha alegria, enquanto meu coração era triste. Ela era meu último fio de fé quando eu já não acreditava em nada. Era quem me chacoalhava quando o pessimismo mantinha-me com a cara no asfalto.
Mas ela perdeu o gosto da vida. Temi tê-la vencido com minha amargura. Porém ela disse que apenas se cansou. Da luta. Da esperança tola por dias melhores que não vieram. Justo ela!
Constatou que a vida era longa demais e me revelou que estava exaurida da jornada. Eu simplesmente não quis julgá-la, pois não se pode forçar o amor, e ela já não amava mais a vida. Tinha uma dor constante no peito e desejou que a vida lhe desligasse os aparelhos e o zigzag cessasse. Sim, justamente ela, a criança, a mulher, a melhor parte de mim.
E foi então que senti meu coração silenciar. Um zumbido fino, o ar invadindo o corpo mais uma vez, pedindo para não ser expulso. Mas não podíamos respirar a realidade. Sem altos e baixos, sem variação das ondas. Apenas uma linha reta agora. Remanso…