O tempo que espere
Não, ela não estava apegada, queria apenas uma pegada diferente. Cansou-se de indiferenças e partiu sem norte com seu chapéu. Proteção, dizia. Proteger a mente do sol escaldante da raiva que de vez em quando fervilhava. Caminhou despreocupada pelos anos em curso que lhe discursavam mentiras a respeito do tempo. O tempo que espere, dizia, agitada. Ai, que não me perco de mim antes de sair da sombra!, gritava e, ventando-se dispersa, dava voltas em redemoinhos, pisando de não em não até encontrar seu sim.
Foi num domingo qualquer, próximo às gôndolas de Veneza, ou seriam as ruínas do castelo de Menlo? Não, provavelmente no Jardim Champ de Mars. O lugar não importava, rabiscava-os em pano de fundo quando fechava os olhos. Foi uma troca de olhares, mas o encontro foi de almas, de aromas, de tempos que se desprenderam da espera.
Despiu-se do chapéu e de pudores, e o relógio correu em reverso, restaurando-lhe a juventude arranhada. Celebrou no céu da Capadócia antes do suspiro extasiado sobre os lençóis brancos.
Texto de Luciane Monteiro
Imagem por Pixabay
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